terça-feira, 27 de dezembro de 2016

As séries que farão 2017 começar bem

Por Dora Carvalho

Sherlock




No que se refere a séries, 2017 já vai começar muito bom. Logo no primeiro dia do ano, vai ao ar a tão esperada quarta temporada de Sherlock. Ainda é difícil saber quando chegará ao Brasil, mas o que se sabe é que o três episódios serão intitulados como “The Six Thatchers”. As últimas entrevistas dos produtores e atores indicam que os capítulos finais de uma das melhores adaptações já feitas para as histórias de Sir Arthur Conan Doyle devem superar as expectativas.
Sherlock ambienta no século 21 as famosas aventuras do famoso detetive britânico com uma agilidade e sagacidade de roteiro poucas vezes vistas na televisão. A série ainda tem à frente um dos melhores atores da atualidade. Benedict Cumberbatch tem sido um fenômeno em todos os trabalhos em que atua e, sem dúvida, é o principal responsável também pelo sucesso de Sherlock.



Desventuras em série



É grande a expectativa também em relação a estreia da adaptação para a telinha da saga dos livros campeões mundiais de vendas “Desventuras em série”, do escritor Daniel Handler e que já rendeu um longa estrelado por Jim Carrey em 2004. O ator Neil Patrick Harris (de How I met your mother) personifica Conde Olaf, tio de Violet, Klaus e Sunny Baudalaire, crianças orfãs obrigadas a ficar sob os cuidados de um parente mal-intencionado, interessado apenas em colocar as mãos na herança dos três. A estreia é dia 13 de janeiro.



Punho de Ferro e Os defensores



Quem é fã de Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage terá em 2017 uma super dose de super-heróis. O Netflix promete a estreia de duas séries desse universo da Marvel. Em março, estreia Punho de Ferro, com 13 episódios que conta a história de Daniel Rand (Finn Jones), um bilionário e monge budista com poderes especiais e mestre em kung fu.

Já Os Defensores deverá reunir todo o universo da Marvel já visto pelo serviço de streaming.



segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Sully, um homem e sua escolha

Por Vilma Pavani

É típico do ser humano: sempre queremos heróis, aqueles que nos dão esperança quando tudo parece perdido. Talvez por isso parte da crítica tenha se decepcionado com o bom filme de Clinton Eastwood, “Sully - O Herói do Rio Hudson” (aliás, apenas “Sully”, em inglês), já que o personagem verídico - interpretado com a maior simplicidade e competência por Tom Hanks - passa longe da imagem do  sujeito valente que arrisca a vida para salvar o mundo. Até porque o verdadeiro Sully Sullenberger era um piloto de 57 anos quando "aterrissou" dentro do rio Hudson, em Nova York, com 150 passageiros a bordo e mais quatro tripulantes, durante um voo doméstico, sem que ninguém morresse. O avião tinha acabado de decolar quando colidiu com um bando de pássaros e ficou sem os motores, precisando fazer uma aterrissagem de emergência.
Na época, trabalhando em um jornal, lembro de olhar incrédula para as fotos do avião dentro do rio e das pessoas sendo recolhidas por equipes de resgate. Não me lembrava do rosto do piloto e do co-piloto, nem acompanhei as discussões posteriores sobre se eles poderiam ter pousado em algum aeroporto próximo, o que com certeza invalidaria o mérito do nosso "herói".
Bem, no cinema tive a chance, que todos podem ter, de saber como tudo aconteceu de fato.
Clint Eastwood continua um diretor de olhar afiado sobre as pequenas grandes coisas que caracterizam o ser humano. E mostra como um homem comum, ao ter de tomar uma decisão crucial, precisa contar com a experiência acumulada e arcar com as consequências de seus gestos. No filme, o incidente com o avião, por mais impressionante que seja, não é o essencial, mas sim a maneira como Sully lida com o problema e com as dúvidas que cercam sua atitude. Pois não bastava ter salvo a vida de todas as pessoas a bordo, ainda teve de defender sua posição. E é aí que o filme “pega”. Por exemplo, quando o confrontam sobre o critério usado para a decisão de pousar no rio, ele diz algo como "meus 40 anos de experiência” (Sully voava desde os 16 anos). Ou seja, não se trata apenas de coragem e nem mesmo de competência: decisões tomadas em momentos difíceis são fruto, também, das experiências, erros e acertos acontecidos ao longo do tempo.
Clint, como sempre, sabe do que fala. E Tom Hanks é um ator perfeito para o papel. Contido, distante de estrelismos, do histrionismo e do glamour aos quais é tão fácil a um ator de Hollywood se entregar, Hanks torna seu personagem absolutamente crível. Como seu personagem, ele é um cara fazendo seu trabalho da melhor maneira possível.
Não é um filme feito para ganhar Oscar, nem mesmo um grande filme. Mas é feito por gente inteligente, para ser assistido por quem gosta de pensar sobre o que faz um ser humano comum na hora em que tem de tomar uma atitude incomum.







Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Chesley Sullenberger, Jeffrey Zaslow, Todd Komarnicki

Elenco: Tom Hanks, Aaron Eckart, Laura Linney
Livro: Sully – O herói do rio Hudson - Chesley Sullenberger, Jeffrey Zaslow – Intrínseca, 2016.

Vilma Pavani é jornalista e acaba de se lembrar por que tinha medo de avião

sábado, 3 de dezembro de 2016

Dois filmes para quem adora ciência

Por Dora Carvalho

A chegada

Sem muito alarde inicial, o filme A chegada, dirigido por Denis Villeneuve, é, sem dúvida, uma das grandes surpresas do ano do gênero ficção científica. Roteiro, ritmo, fotografia, direção de atores e, sobretudo, a interpretação de Amy Adams, que protagoniza o filme na pele de uma especialista em linguística, constroem um novo tipo de sci-fi para a tela grande. Há todos os elementos de mistério de uma narrativa típica do gênero: alienígenas chegam a Terra sem barulho, sem ameaças, em 12 casulos que pairam no ar em 12 locais diferentes do planeta, gerando pânico, declarações de guerra e a iminência de um conflito global. Tudo isso simplesmente porque ninguém entende o porquê da presença dessas criaturas.
A dra. Louise Banks, vivida por Amy Adams, é uma das poucas capazes de construir pontes linguísticas que iniciam um processo de interação com os estranhos seres. A beleza do filme e do roteiro está na maneira como é feita essa construção. Villeneuve e o roteirista Eric Heisserer criam então um enredo de ficção científica que trata do que nos faz essencialmente humanos, sobre as incertezas em relação ao tempo que temos neste planeta e sobre uma contagem de tempo não linear. A maneira como expressamos ideias, sentimentos, sonhamos e percebemos o mundo é colocada em uma perspectiva de reaprendizado, afinal, como nos apresentaríamos para uma criatura de outro planeta? Como uma criança percebe o mundo?
O filme é baseado no conto de Ted Chiang, que tem como título original “Story of your life”. O ponto de partida a hipótese de Sapir-Whorf que, resumidamente, indica que a linguagem que usamos determina a maneira como pensamos.
O filme A chegada tem ainda Jeremy Renner e Forrest Whitaker. Embora estejam bem em seus papéis, o foco é na personagem de Amy Adams, que faz com que o espectador participe da história por meio de suas descobertas e leva quem assiste a sentir todo o processo de descoberta que a personagem está passando. Há muitas comparações sendo feitas com outras referências no gênero: 2001 – uma odisseia no espaço (Stanley Kubrick), Interestelar (Christopher Nolan), A árvore da vida (Terrence Malick) etc. A chegada é singular na maneira como humaniza as questões científicas mais básicas, como as dúvidas em relação a espaço-tempo, o quanto uma civilização pode alcançar em termos tecnológicos e a capacidade humana de lidar com os avanços do conhecimento sem criar uma corrida armamentista. É um roteiro que está muito mais para Isaac Asimov do que para possíveis homenagens a outros cineastas, é muito mais literário nas questões que aborda do que em termos de pretensão visual, embora seja um filme belíssimo. É uma narrativa simples, de entretenimento, mas que eleva a ficção científica a um patamar diferente, capaz de agradar tanto fãs do gênero quanto a desavisados ou quem está apenas em busca de uma história bem contada.





O homem que viu o infinito

Srinivasa Alyangar Ramanujan foi uma matemático indiano que, após uma infância difícil em Madras, na Índia, teve a oportunidade de apresentar a genialidade das descobertas que fez na Matemática na Universidade de Cambridge, Inglaterra, no período da Primeira Guerra Mundial. Desacreditado por outros acadêmicos por não ter uma formação convencional, foi obrigado a ultrapassar o preconceito e as formalidades acadêmicas para provar as teorias numéricas, séries infinitas, frações, dentre outras descobertas.
O filme de Matthew Brown – O homem que viu o infinito – é a bela cinebiografia do matemático indiano, interpretado pelo carismático Dev Patel. O ator faz uma fabulosa parceria com Jeremy Irons no longa, que vive o acadêmico Godfrey Harold Hardy, um defensor da beleza estética da matemática pura. O destaque do filme é sem dúvida as descobertas do protagonista, porém, o contexto social da época assim como as diferenças culturais, que determinam a maneira como se constrói conhecimento científico, é apresentado por meio das interpretações de Patel e Irons – um é jovem e entusiasta da difusão do conhecimento puro e simples, enquanto o professor mais velho fica entre a necessidade de inovação e o rigor da academia. O filme ficou em cartaz apenas no mês de outubro nos cinemas, mas acaba de ser lançado no Netflix.