segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Sully, um homem e sua escolha

Por Vilma Pavani

É típico do ser humano: sempre queremos heróis, aqueles que nos dão esperança quando tudo parece perdido. Talvez por isso parte da crítica tenha se decepcionado com o bom filme de Clinton Eastwood, “Sully - O Herói do Rio Hudson” (aliás, apenas “Sully”, em inglês), já que o personagem verídico - interpretado com a maior simplicidade e competência por Tom Hanks - passa longe da imagem do  sujeito valente que arrisca a vida para salvar o mundo. Até porque o verdadeiro Sully Sullenberger era um piloto de 57 anos quando "aterrissou" dentro do rio Hudson, em Nova York, com 150 passageiros a bordo e mais quatro tripulantes, durante um voo doméstico, sem que ninguém morresse. O avião tinha acabado de decolar quando colidiu com um bando de pássaros e ficou sem os motores, precisando fazer uma aterrissagem de emergência.
Na época, trabalhando em um jornal, lembro de olhar incrédula para as fotos do avião dentro do rio e das pessoas sendo recolhidas por equipes de resgate. Não me lembrava do rosto do piloto e do co-piloto, nem acompanhei as discussões posteriores sobre se eles poderiam ter pousado em algum aeroporto próximo, o que com certeza invalidaria o mérito do nosso "herói".
Bem, no cinema tive a chance, que todos podem ter, de saber como tudo aconteceu de fato.
Clint Eastwood continua um diretor de olhar afiado sobre as pequenas grandes coisas que caracterizam o ser humano. E mostra como um homem comum, ao ter de tomar uma decisão crucial, precisa contar com a experiência acumulada e arcar com as consequências de seus gestos. No filme, o incidente com o avião, por mais impressionante que seja, não é o essencial, mas sim a maneira como Sully lida com o problema e com as dúvidas que cercam sua atitude. Pois não bastava ter salvo a vida de todas as pessoas a bordo, ainda teve de defender sua posição. E é aí que o filme “pega”. Por exemplo, quando o confrontam sobre o critério usado para a decisão de pousar no rio, ele diz algo como "meus 40 anos de experiência” (Sully voava desde os 16 anos). Ou seja, não se trata apenas de coragem e nem mesmo de competência: decisões tomadas em momentos difíceis são fruto, também, das experiências, erros e acertos acontecidos ao longo do tempo.
Clint, como sempre, sabe do que fala. E Tom Hanks é um ator perfeito para o papel. Contido, distante de estrelismos, do histrionismo e do glamour aos quais é tão fácil a um ator de Hollywood se entregar, Hanks torna seu personagem absolutamente crível. Como seu personagem, ele é um cara fazendo seu trabalho da melhor maneira possível.
Não é um filme feito para ganhar Oscar, nem mesmo um grande filme. Mas é feito por gente inteligente, para ser assistido por quem gosta de pensar sobre o que faz um ser humano comum na hora em que tem de tomar uma atitude incomum.







Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Chesley Sullenberger, Jeffrey Zaslow, Todd Komarnicki

Elenco: Tom Hanks, Aaron Eckart, Laura Linney
Livro: Sully – O herói do rio Hudson - Chesley Sullenberger, Jeffrey Zaslow – Intrínseca, 2016.

Vilma Pavani é jornalista e acaba de se lembrar por que tinha medo de avião

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