Por Dora Carvalho
A chegada
Sem muito
alarde inicial, o filme A chegada, dirigido por Denis Villeneuve, é, sem
dúvida, uma das grandes surpresas do ano do gênero ficção científica.
Roteiro, ritmo, fotografia, direção de atores e, sobretudo, a interpretação de
Amy Adams, que protagoniza o filme na pele de uma especialista em linguística,
constroem um novo tipo de sci-fi para a tela grande. Há todos os elementos de mistério de uma narrativa típica do gênero: alienígenas chegam a Terra sem barulho, sem
ameaças, em 12 casulos que pairam no ar em 12 locais diferentes do planeta,
gerando pânico, declarações de guerra e a iminência de um conflito global. Tudo
isso simplesmente porque ninguém entende o porquê da presença dessas criaturas.
A dra. Louise
Banks, vivida por Amy Adams, é uma das poucas capazes de construir pontes
linguísticas que iniciam um processo de interação com os estranhos seres. A
beleza do filme e do roteiro está na maneira como é feita essa construção.
Villeneuve e o roteirista Eric Heisserer criam então um enredo de ficção
científica que trata do que nos faz essencialmente humanos, sobre as incertezas
em relação ao tempo que temos neste planeta e sobre uma contagem de tempo não
linear. A maneira como expressamos ideias, sentimentos, sonhamos e percebemos o
mundo é colocada em uma perspectiva de reaprendizado, afinal, como nos
apresentaríamos para uma criatura de outro planeta? Como uma criança percebe o
mundo?
O filme é
baseado no conto de Ted Chiang, que tem como título original “Story of your
life”. O ponto de partida a hipótese de Sapir-Whorf que, resumidamente, indica
que a linguagem que usamos determina a maneira como pensamos.
O filme A
chegada tem ainda Jeremy Renner e Forrest Whitaker. Embora estejam bem em seus
papéis, o foco é na personagem de Amy Adams, que faz com que o espectador
participe da história por meio de suas descobertas e leva quem assiste a sentir
todo o processo de descoberta que a personagem está passando. Há muitas
comparações sendo feitas com outras referências no gênero: 2001 – uma odisseia
no espaço (Stanley Kubrick), Interestelar (Christopher Nolan), A árvore da vida
(Terrence Malick) etc. A chegada é singular na maneira como humaniza as
questões científicas mais básicas, como as dúvidas em relação a espaço-tempo, o
quanto uma civilização pode alcançar em termos tecnológicos e a capacidade
humana de lidar com os avanços do conhecimento sem criar uma corrida
armamentista. É um roteiro que está muito mais para Isaac Asimov do que para
possíveis homenagens a outros cineastas, é muito mais literário nas questões
que aborda do que em termos de pretensão visual, embora seja um filme
belíssimo. É uma narrativa simples, de entretenimento, mas que eleva a ficção
científica a um patamar diferente, capaz de agradar tanto fãs do gênero quanto
a desavisados ou quem está apenas em busca de uma história bem contada.
O homem que
viu o infinito
Srinivasa
Alyangar Ramanujan foi uma matemático indiano que, após uma infância difícil em
Madras, na Índia, teve a oportunidade de apresentar a genialidade das
descobertas que fez na Matemática na Universidade de Cambridge, Inglaterra, no
período da Primeira Guerra Mundial. Desacreditado por outros acadêmicos por não
ter uma formação convencional, foi obrigado a ultrapassar o preconceito e as
formalidades acadêmicas para provar as teorias numéricas, séries infinitas,
frações, dentre outras descobertas.
O filme de
Matthew Brown – O homem que viu o infinito – é a bela cinebiografia do
matemático indiano, interpretado pelo carismático Dev Patel. O ator faz uma
fabulosa parceria com Jeremy Irons no longa, que vive o acadêmico Godfrey
Harold Hardy, um defensor da beleza estética da matemática pura. O destaque do
filme é sem dúvida as descobertas do protagonista, porém, o contexto social da
época assim como as diferenças culturais, que determinam a maneira como se
constrói conhecimento científico, é apresentado por meio das interpretações de
Patel e Irons – um é jovem e entusiasta da difusão do conhecimento puro e
simples, enquanto o professor mais velho fica entre a necessidade de inovação e o rigor da academia. O filme ficou em cartaz apenas no mês de outubro nos cinemas, mas acaba de ser lançado no Netflix.
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