quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Dr. Estranho: quando ator e roteiro encontram psicodelia

Por Dora Carvalho


É possível que Dr. Estranho, o mais novo longa da Marvel, seja um divisor de águas quando se fala em filme de super-heróis. Caso se confirme e a expectativa de recordes de bilheteria – e a estreia em 33 países já vem concretizando isso – o público vai querer cada vez mais de roteiristas e diretores. Isso porque Dr. Estranho, e definitivamente por causa de Benedict Cumberbatch, está entre os melhores longas do gênero da nova safra de adaptações de HQs para o cinema.
A atuação de Benedict Cumberbatch está simplesmente sensacional. O ator, que sem dúvida nenhuma é um dos melhores da atualidade, dá um tom tão perfeito ao personagem, com nuances que vão da extrema arrogância ao mais miserável dos seres, e ainda com a energia e força esperada de um super-herói, que produtores vão ter de pensar mais antes de selecionar novos protagonistas para encarnar essas criaturas fora do comum.
Cumberbatch é a personificação do Doutor Stephen Vincent Strange, personagem criado pelor Stan Lee e Steve Ditko nos anos 60, e um dos mais interessantes do universo Marvel. Dr. Estranho se utiliza da extrema inteligência e de características místicas para combater criaturas do mal. Além do fato de o personagem ser muito bem construído nos HQs, Cumberbatch foi capaz de dar as nuances necessárias para a complexidade do médico que se achava uma espécie de deus e perde a capacidade de fazer cirurgias após um grave acidente.
As características do personagem e o universo criado pelos quadrinhos foram muito bem utilizados pelos roteiristas Scott Derrickson e Robert Cargill. Derrickson também dirige o longa e, talvez pelo fato de ter a liberdade de direção e roteiro, conseguiu executá-lo com maestria, dando a necessária liberdade para o elenco estrelado atuar.
O filme tem ainda as presenças dos excelentes Mads Mikkelsen, que faz o vilão Kaecilius, e da incrível Tilda Swinton, a Anciã, que orbitam harmoniosamente em torno de Cumberbatch, um enriquecendo a atuação de outro. Esse é um dos pontos em que o longa Dr. Estranho se diferencia de outros filmes da Marvel. A escolha de atores do quilate de Mikkelsen, Swinton, Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, que tem uma papel crucial na trama, deixa o filme redondo, harmonioso, sem pontas soltas. Além disso, o roteiro usa e abusa das possibilidades místicas oferecidas por toda a simbologia exercida pelas religiões do Oriente. O filme ainda tem a qualidade de acelerar a história da formação e conversão do personagem principal indo direto para o que interessa – ao território desconhecido e intrigante da cultura oriental, com cenas mirabolantes e inacreditáveis na cidade de Katmandu, no Nepal. Mandalas começam a girar vertiginosamente levando o espectador para um mundo mágico e transcendente, onde a matéria se desfaz em minúsculas partículas para se refazer em multiversos. Os efeitos gráficos e especiais são tão bem executados que não cansam, tamanha beleza, remetendo muitas vezes ao infinito das obras do artista gráfico holandês M.C. Escher, onde as figuras e os espaços não têm começo e nem fim.

E ainda para arrematar esse contexto uma trilha sonora arrasadora, em que a sonoplastia é permeada com um som de cravo para dar uma sonoridade de outro mundo. E, como senão bastasse tanta beleza visual, Interestellar Overdrive do Pink Floyd nos encanta e nos mergulha em um mundo surreal, psicodélico e fantástico.







Dr. Estranho - 115 min
Direção e roteiro: Scott Derrickson
Marvel/ Disney

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