Por Dora Carvalho
É possível
que Dr. Estranho, o mais novo longa da Marvel, seja um divisor de águas quando
se fala em filme de super-heróis. Caso se confirme e a expectativa de recordes
de bilheteria – e a estreia em 33 países já vem concretizando isso – o público
vai querer cada vez mais de roteiristas e diretores. Isso porque Dr. Estranho, e definitivamente por causa de Benedict Cumberbatch, está entre os melhores longas do
gênero da nova safra de adaptações de HQs
para o cinema.
A atuação
de Benedict Cumberbatch está simplesmente sensacional. O ator, que sem dúvida
nenhuma é um dos melhores da atualidade, dá um tom tão perfeito ao personagem,
com nuances que vão da extrema arrogância ao mais miserável dos seres, e ainda
com a energia e força esperada de um super-herói, que produtores vão ter de
pensar mais antes de selecionar novos protagonistas para encarnar essas
criaturas fora do comum.
Cumberbatch
é a personificação do Doutor Stephen Vincent Strange, personagem criado pelor
Stan Lee e Steve Ditko nos anos 60, e um dos mais interessantes do universo
Marvel. Dr. Estranho se utiliza da extrema inteligência e de características
místicas para combater criaturas do mal. Além do fato de o personagem ser muito
bem construído nos HQs, Cumberbatch foi capaz de dar as nuances necessárias
para a complexidade do médico que se achava uma espécie de deus e perde a
capacidade de fazer cirurgias após um grave acidente.
As
características do personagem e o universo criado pelos quadrinhos foram muito
bem utilizados pelos roteiristas Scott Derrickson e Robert Cargill. Derrickson
também dirige o longa e, talvez pelo fato de ter a liberdade de direção e
roteiro, conseguiu executá-lo com maestria, dando a necessária liberdade para o
elenco estrelado atuar.
O filme tem
ainda as presenças dos excelentes Mads Mikkelsen, que faz o vilão Kaecilius, e
da incrível Tilda Swinton, a Anciã, que orbitam harmoniosamente em torno de Cumberbatch, um
enriquecendo a atuação de outro. Esse é um dos pontos em que o longa Dr. Estranho
se diferencia de outros filmes da Marvel. A escolha de atores do quilate de
Mikkelsen, Swinton, Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, que tem uma papel crucial na
trama, deixa o filme redondo, harmonioso, sem pontas soltas. Além disso, o
roteiro usa e abusa das possibilidades místicas oferecidas por toda a
simbologia exercida pelas religiões do Oriente. O filme ainda tem a qualidade
de acelerar a história da formação e conversão do personagem principal indo
direto para o que interessa – ao território desconhecido e intrigante da
cultura oriental, com cenas mirabolantes e inacreditáveis na cidade de
Katmandu, no Nepal. Mandalas começam a girar vertiginosamente levando o espectador para um mundo mágico e transcendente, onde a matéria se desfaz em minúsculas
partículas para se refazer em multiversos. Os efeitos gráficos e especiais são
tão bem executados que não cansam, tamanha beleza, remetendo muitas
vezes ao infinito das obras do artista gráfico holandês M.C. Escher, onde as
figuras e os espaços não têm começo e nem fim.
E ainda
para arrematar esse contexto uma trilha sonora arrasadora, em que a sonoplastia
é permeada com um som de cravo para dar uma sonoridade de outro mundo. E, como
senão bastasse tanta beleza visual, Interestellar Overdrive do Pink Floyd nos
encanta e nos mergulha em um mundo surreal, psicodélico e fantástico.
Dr. Estranho - 115 min
Direção e roteiro: Scott Derrickson
Marvel/ Disney
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