domingo, 23 de outubro de 2016

Ben Affleck faz um contador bom de briga

O filme O contador tinha tudo para ser mais um longa de ação, tiros e pancadaria. Mas o fato é que o roteiro é assinado pelo excelente Bill Dubuque (O juiz/2014), que vem enfileirando um filme mais interessante que o outro e atraindo a atenção das estrelas de Hollywood para longas que, de início, estão longe de ganhar os holofotes, mas acabam se destacando justamente pelas tramas bem elaboradas. Ben Affleck, por sua vez, também está em um ótimo momento da carreira e também vem selecionando papéis que o desafiam como ator, ainda mais agora que pode ficar estigmatizado como um Batman que ainda não mostrou muito a que veio.
O enredo de O Contador conta a história de Christian Wolff, um menino com Síndrome de Savant, com extrema habilidade mental para memorizar fatos e números, mas que sofre com problemas de interação social. Filho de um militar rigoroso, o garoto é treinado pelo pai para utilizar ao máximo as habilidades cerebrais e acaba se tornando um contador a serviço de mafiosos, traficantes e empresários ligados a atividades ilícitas.
Ben Affleck convence no papel. E não é só porque há um ligeiro dejá-vu de Demolidor (2003). Isso porque o roteiro o apresenta como uma espécie de super-herói disposto a ajudar os outros com suas habilidades extremas. Entretanto, precisa manter a identidade em segredo por estar sempre na berlinda entre o bem o mal. Além disso, faz o tipo cara durão e bom de briga e, em alguns momentos, um cowboy atirador. É uma mescla de diversas referências cinematográficas, com uma abordagem psicológica, já que a força do personagem vem justamente das dificuldades psíquicas enfrentadas. A trama reúne ainda J.K. Simmons (Ray) que faz um agente do imposto de renda americano e Anna Kendrick (Dana), uma contadora. Os dois personagens servem para nos mostrar os pontos de conexão da trama que vai ocorrendo em separado ao longo do filme e a maneira como o personagem de Affleck lida com as emoções e pessoas.
O que pode incomodar alguns espectadores é o fato de o enredo não ser linear, o que faz a trama perder um pouco o ritmo de ação e tornar alguns pontos um tanto confusos. Mas, ao final, essas aparentes falhas de roteiro indicam um propósito satisfatório. O enigma pode até ser decifrado um pouco antes por quem está mais atento à história.
O diretor Gavin O’Connor demonstra experiência à frente de filmes policiais, com cenas bem feitas de luta, mas com clichês típicos de longas de ação. Isso não é ruim, pois agrada o público em busca tiros e briga.
Se por um lado o longa apresenta as imensas dificuldades vividas por alguém que possui algum tipo de problema ligado ao autismo, por outro, demonstra que a sociedade ainda não sabe lidar com a ideia de que o nível de inteligência de grande parte da sociedade ainda não é calculado de uma maneira confiável ou adequada às habilidades de cada um e que o ser normal está muito longe das estatísticas consideradas oficiais. É um filme de pancadaria sim, mas também nos apresenta uma mensagem importante sobre como estamos lidando com o que consideramos diferente.

Apesar de o roteiro ser bem engendrado, fica a impressão da necessidade de um novo filme para explicar algumas características desenvolvidas pelo personagem. Se foi de propósito ou não e se a ideia for tornar o filme uma franquia, ficou faltando um pedaço da história de transformação do menino para o super-herói. O filme surpreendeu em bilheteria nos Estados Unidos no final de semana de estreia. Vamos aguardar se isso irá encorajar os produtores para uma continuação.





O Contador
Direção: Gavin O'Connor 
2h10


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente e participe do blog!