sexta-feira, 22 de julho de 2016

Um homem entre gigantes: ciência e futebol americano

Por Dora Carvalho

Will Smith é levado pouco a sério no cinema americano. Talvez porque ao longo da carreira tenha feito papéis cômicos que não exigiram muita intensidade dramática ou ainda por ser considerado um ator de blockbusters, já que a arrecadação total dos filmes do artista atingiram um total de US$ 6 bilhões, segundo a Forbes, que o considera um dos rostos mais rentáveis do show business. E ainda para piorar, dentre as indicações a prêmios, ganhou três vezes o Framboesa de Ouro, uma paródia do Oscar que destaca as piores atuações e filmes.
O carisma de Smith, entretanto, sempre o ajuda a se renovar. E não foi diferente no longa Um homem entre gigantes (Concussion/2015), dirigido por Peter Landesman, diretor que vem se especializando em roteirizar e adaptar para o cinema histórias verídicas, como é o caso deste longa.
Smith vive o médico neuropatologista forense Bennet Omalu, um imigrante nigeriano que pesquisa nos Estados Unidos sobre as causas de mortes no centro de autópsias de Pittsburg. Omalu tem um jeito peculiar de analisar os casos, fato que causa certa irritação entre os colegas. Em uma de suas pesquisas, depara-se com a morte abrupta de um dos jogadores de futebol americano mais ilustres da cidade. A partir daí, faz a descoberta de um trauma cerebral que acomete os esportistas em razão dos constantes e violentos choques em campo.
O ator se reinventou para o papel. Fala com sotaque nigeriano, tem trejeitos que nada lembram os maneirismos típicos dos filmes de comédia. O drama biográfico ajudou Smith a contar uma história de injustiças e que revela várias facetas: um médico que, apesar da quantidade de diplomas, por não ser americano, acaba sendo desacreditado; a busca incessante pela verdade por meio de pesquisas e comprovações científicas e a defesa incessante e sem escrúpulos de uma indústria esportiva que cada vez menos tem a ver com o esporte. O futebol americano está em busca de espetáculo e dos milionários contratos publicitários. Jogadores são apenas instrumentos para fazer dinheiro.
O filme é interessantíssimo do ponto de vista científico e apresenta como os avanços da medicina podem estar nos mínimos detalhes. Smith na pele do Dr. Omalu é convicente, sobretudo, porque nos apresenta a visão de alguém de fora dos Estados Unidos para com um esporte que, de tão naturalizado entre os americanos, é visto apenas como algo que inspira emoções e fanatismos. Poucos estão dispostos a ver que a violência e força excessiva em campo podem colocar vidas em risco, afinal, ninguém pode destruir o sonho americano.
O roteiro e direção são lineares e a história é apresentada devagar para que o espectador conheça as características do protagonista e da doença dos jogadores. O diretor teve o cuidado de poupar-nos de cenas chocantes de autópsias, priorizando a discussão científica, com explicações razoáveis, nem muito técnicas nem ingênuas. A história em si já é muito instigante. A emoção dos envolvidos e a gravidade da situação apresentada são os destaques.

Um homem entre gigantes é baseado em um artigo escrito por Jeanne Marie Laskas, publicado na revista GQ em 2009, sob o título de “Game Brain” e que causou grande comoção à epoca. A história depois virou livro. Fãs de esportes, sem dúvida, podem gostar do filme. É uma visão que tira do transe quase hipnótico provocado pelo espetáculo das partidas e faz enxergar o fator humano dentro de uma indústria bilionária.




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