sábado, 4 de junho de 2016

Bletchley Circle: mulheres brilhantes

Por Dora Carvalho

Bletchley Park é uma mansão tipicamente inglesa que fica no interior do país e escondeu na Segunda Guerra Mundial uma estação militar, a X Station, de decifração de códigos alemães. O matemático Alan Turing, que recentemente teve a biografia retratada no cinema com o filme O jogo da imitação (2014), era um dos responsáveis pelas análises de criptografia. No local, os primórdios da computação que conhecemos hoje começou a se desenvolver.
Mas, sempre que a Segunda Guerra é retratada, lembra-se mais das batalhas travadas entre soldados e pouco se fala sobre os combates feitos por cientistas e estrategistas que ficavam bem atrás da linha de ataque.
É esse o ponto que trata Bletchley Circle, uma das séries mais interessantes que assisti neste ano. O enredo retrata o papel das mulheres fora do front. Nos anos 40, durante o conflito, elas se acostumaram a trabalhar, a utilizar todo o brilhantismo e capacidade profissional e, após o término dos combates, foram obrigadas a retomar uma vida doméstica ao qual não estavam mais acostumadas. Mas suas vidas já estavam fortemente marcadas pela guerra e as consequências são inescapáveis.
As quatro protagonistas de Bletchley Circle têm capacidades tão incríveis que até nos lembram dos mutantes de X-Men. Lucy (Sophie Rundle) é capaz de memorizar textos, fotos, cenas e dados a ponto de reproduzir as informações como um computador. Susan (a excelente atriz Anna Maxwell Martin, que brilhou em Bleak House) tem a capacidade de reconhecer padrões em todos os dados que coleta e os conecta de maneira que possa criptografá-los ou decifrá-los. Jean (Julie Graham) é uma misteriosa bibliotecária que guarda segredos da Segunda Guerra Mundial e os mantém como trunfo para cobrar de autoridades informações sobre os casos que está investigando. Já Millie (Rachael Stirling) é a mais forte e independente de todas e não se limita às convenções sociais. E todas têm cérebros brilhantes e são capazes de encontrar pistas onde ninguém mais pode ver. Falar mais do que isso seria spoiler, pois o seriado é de mistério e nos instiga a montar os quebra-cabeças junto com as personagens.
O roteiro cheio de viradas é assinado por Guy Burt (The Borgias). Foram produzidas duas temporadas para a série, que tem um total de sete episódios, com cerca de 46 minutos cada um. Dá para assistir em maratona. Infelizmente, a produção, que era feita pela ITV na Inglaterra, foi cancelada sem explicações claras, apesar da grande audiência. Ao ver a série, fico me perguntando se os segredos retratados possam ter incomodado demais. As atitudes e decisões tomadas durante a Segunda Guerra ainda ecoam muito mais do que podemos imaginar.

A série está disponível no Netflix e também em DVD e Blu-Ray.






P.S. Bletchley Park é um local aberto a visitas e tem um site ótimo. Para matar a curiosidade sobre o local: http://www.bletchleypark.org.uk/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente e participe do blog!